Superliga Masculina pode encolher na próxima temporada por causa de crise financeira

A temporada 2019/2020 do vôlei brasileiro tem sido atribulada nos bastidores. Equipes como América/Montes Claros, Ponta Grossa, Maringá e até o Taubaté-SP, atual líder da Superliga, têm salários atrasados. Além disso, antes do início da competição, o Botafogo desistiu da disputa por não ter recursos financeiros para continuar bancando a equipe. O que se percebe é que o vôlei brasileiro está à beira de uma crise que pode ter graves consequências.
A possível redução de equipes na Superliga Nacional Masculina pode acarretar na falta de clubes para abrigar tantos jogadores de alto nível e em uma consequente evasão de jogadores para o exterior. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) já foi obrigada a diminuir o número de participantes no torneio feminino. Na temporada 2012/13, foram 10 equipes em vez de 12, como é hoje e foi na maioria das edições.
O primeiro problema surgiu em outubro, quando o Botafogo, que venceu a Superliga B e conquistou o direito de jogar a divisão principal, anunciou o fim de sua equipe. A CBV, na época, solucionou o problema incluindo o Ponta Grossa no lugar da equipe carioca, uma vez que a equipe paranaense tinha sido rebaixada na edição anterior. O time, no entanto, tem problemas de ações na Justiça do Trabalho, de jogadores que defenderam o clube em edições anteriores e cobram por salários devidos.
Depois do Botafogo veio o problema do mineiro América, que tem o vôlei sediado em Montes Claros. Sem receber salários, três jogadores deixaram o clube. O primeiro foi o ponteiro Thiago Alves, que disputou apenas o Campeonato Mineiro. Depois dele, o líbero Kachel e o ponteiro Jonatas.
Segundo o gestor Andrey Souza, o problema do time com relação a salários já está solucionado. “Em janeiro, quitamos todos os salários. Colocamos tudo em dia. Posso dizer que o problema já está solucionado em 90%, isso porque tem dois jogadores que fizeram um acordo em separado e que receberão no máximo até abril, quando nosso patrocinador acertar.”
A situação não para por aí. No mês passado, o Sesc-RJ anunciou que esta será a última temporada do vôlei masculino. A notícia caiu como uma bomba, pois o time, teoricamente, está na disputa do título. É o terceiro colocado, nove pontos atrás do Cruzeiro. Com o fim da equipe, jogadores de alto nível ficarão disponíveis no mercado, como os campeões olímpicos no Rio’2016 Wallace, Maurício Borges e Maurício Souza.
Mais três equipes enfrentam problemas com a folha salarial na atual Superliga. Por incrível que pareça, o atual campeão e líder da competição é um deles. Houve um atraso de três meses, mas, segundo nota divulgada pelo clube, o problema já foi sanado, com um acordo feito com os jogadores. O Taubaté existe em parte com recursos da prefeitura da cidade paulista e, segundo explicações desta, o atraso aconteceu em função de um problema de fluxo de caixa, mas que tudo estará normalizado até o final da temporada. Ponta Grossa, lanterna da Superliga e já rebaixado, enfrenta problemas não com a temporada atual, mas tem um grande número ações de temporadas passadas.
O Maringá também atravessa uma grave crise financeira, que fez com que até seu presidente, o ex-levantador Ricardinho, campeão olímpico em Atenas’2004, retornasse à quadra. O motivo do retorno foi o fato de sete jogadores, entre eles o oposto Lorena, terem deixado o clube por falta de pagamento. Existe até o fato de o jogador Daniel Rossi ter vendido seu carro para ter dinheiro para custear a sua vida na cidade paranaense.
Uma regra da Superliga diz que um time só pode se inscrever para uma temporada se apresentar uma certidão assinada por todos os jogadores da temporada anterior dando conta de que os salários foram quitados. Caso a regra não seja cumprida, o time não poderá ser inscrito. Mas no início desta temporada a regra não foi cumprida pelo Guarulhos, que disputa a Superliga B, e a CBV não o puniu. Isso levou à renúncia de toda a comissão de atletas da entidade, que era presidida por André Heller.
Segundo o diretor-executivo da CBV, Radamés Lattari, ex-técnico da Seleção Brasileira masculina nos Jogos Olímpicos de Sydney’2000, a entidade está sempre atenta, mas admite que muita coisa não chega ao conhecimento da entidade.
“Em algumas ocasiões, só tomamos conhecimento desses fatos através das mídias. Os atletas dificilmente nos procuram para relatar essas situações. Não procuram nem mesmo a Comissão Nacional de Atletas. Quando nos procuram, é após o encerramento da temporada”, diz.
Radamés explica que atualmente as comissões nacionais de atletas, seja a de quadra, presidida por Raphael Oliveira, ou a da praia, presidida por Emanuel Rego, assim como os clubes, representados pelo Minas e o Pinheiros, têm cadeiras asseguradas nas assembleias e no Conselho de Administração e podem testemunhar o esforço da CBV em regularizar todas as situações.
“A entidade, nos últimos anos, vem incluindo no regulamento da Superliga medidas para que este tipo de situação não ocorra, impedindo a continuação dos inadimplentes na temporada seguinte. O número de equipes ideal para a Superliga é de 12 participantes. Diversas equipes da Superliga B demonstram interesse em participar da Superliga. Inclusive na Superliga C, que dá acesso à Superliga B, o número de participantes também vem aumentando, o que demonstra o interesse na nossa competição”, afirma.
Radamés critica o governo federal e o Congresso ao afirmar que “infelizmente, no nosso país falta uma política para o esporte. Por esse motivo, todas as modalidades esportivas sofrem toda vez que existe problema na economia do mundo que causa reflexo aqui no Brasil. A CBV continuará investindo para melhorar cada vez mais o nível da nossa competição”.
Créditos: superesportes.com.br