Lista pronta de dispensas, atritos, bingo e parto antecipado: veja bastidores da salvação do Guarani

Derrota para o Operário na terça-feira, demissão do técnico e principal ídolo dos últimos tempos na quarta, início de um trabalho com treinador interino na quinta. A terceira semana de agosto tinha todos os ingredientes para ser traumática para o Guarani. Àquela altura ninguém podia imaginar, mas esses acontecimentos marcaram o recomeço da história do clube em 2019.
Foram 88 dias de aflição, desespero, nervosismo, ansiedade, expectativa. E também luta, comprometimento, transpiração, superação de limites. Da lanterna à salvação com duas rodadas de antecedência, o Bugre deu a volta por cima pelas mãos de um técnico interino, um presidente que assumiu o poder para tapar o buraco do antecessor e um elenco inchado e em baixa.
Lista de dispensas
Thiago Carpini assumiu o cargo interinamente em 22 de agosto, após a demissão do técnico Roberto Fonseca, do auxiliar Roberto Fonseca Júnior e de todo o departamento de futebol chefiado pelo ídolo Fumagalli. Entre todos os problemas para resolver em campo, o interino soube que também tinha que solucionar situações do elenco.
Uma lista de dispensados, para acompanhar quem já havia saído do clube, já estava até pronta. Entre os nomes, estavam figuras muito contestadas pela torcida, como o zagueiro Ferreira, os meias Felipe Amorim e Rondinelly e o atacante Éder Luis, até outros que tinham participação frequente como titular, casos do volante Deivid, do meia Arthur Rezende e do atacante Diego Cardoso.
A relação, como todos sabem hoje, nunca chegou a ser colocada em prática. Alguns, como Rondinelly, treinaram separadamente, mas não receberam propostas e acabaram reintegrados por Thiago Carpini. O técnico interino pediu um voto de confiança da diretoria, uniu os jogadores em prol do mesmo objetivo e colheu os frutos.
Deivid e Arthur se tornaram pilares do processo de recuperação do time em campo, a ponto de não terem substitutos à altura no tempo em que estiveram fora. Outros, como Rondinelly e Cardoso, foram importantes em momentos fundamentais da campanha. O meia se tornou titular na reta final, enquanto o atacante anotou três gols que garantiram sete pontos.
Mudanças no comando
Junto com Carpini, o Guarani trouxe Estevam Soares para a vaga recém-aberta com a saída de Fumagalli. O ex-treinador, com identificação forte com o Bugre, foi uma aposta pessoal do então presidente Palmeron Mendes Filho, que dias depois renunciou ao cargo. Quando assumiu, Ricardo Moisés optou por dispensar Estevam e se fechar com o treinador interino.
O relacionamento de Estevam dentro do clube nunca foi dos mais tranquilos, inclusive com Carpini, que chegou a pedir, em uma reunião entre eles a portas fechadas, que houvesse um limite entre o seu cargo, de treinador, e o do superintendente. Por decisão dos cartolas, houve um consenso pela saída de Estevam apenas 16 dias após ser anunciado.
Busca por outros treinadores
Carpini, é bom que se diga, nunca foi a primeira opção do Conselho de Administração. Ainda com Palmeron Mendes Filho, o Guarani negociou com Gilson Kleina, que mais tarde acertaria com a Ponte Preta, e também esteve perto de anunciar René Simões. O experiente treinador, aliás, esteve em Campinas para negociar os detalhes do contrato, mas o Bugre recuou após a troca de presidentes.
Ricardo Moisés tinha a intenção de fechar com Jorginho, sem clube após ser demitido pela Ponte, e chegou a conversar com o treinador, que não aceitou as sondagens. Mais tarde, ele assumiria o Coritiba, clube que está perto de devolver à elite do futebol brasileiro. Sem os nomes imaginados, o Guarani aproveitou a recuperação do time nas mãos de Carpini e seguiu o projeto com o interino.
Grupo fechado
Ferreira estava emocionado no vestiário do Estádio Bento Freitas, após o empate sem gols do Guarani com o Brasil de Pelotas. O zagueiro, que deixou o time após a mudança no comando, tinha acabado de atuar os 90 minutos como capitão e escolhido como melhor em campo. Ele agradeceu Thiago Carpini pela oportunidade de dar a volta por cima e recuperou a confiança na reta final.
Esse é um exemplo da relação entre o treinador e os jogadores. Aposentado há pouco tempo, Carpini se aproximou dos atletas por saber exatamente o que se passava na cabela deles. Nos tempos de auxiliar, ele também virou confidente de alguns jogadores, normalmente os que nem eram relacionados para as partidas nos tempos de Roberto Fonseca.